INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO BÍBLICA
Embora haja uma perda crescente da robustez teológica nas últimas gerações de cristãos, o conservadorismo tem a tendência de desvalorizar o devocional e prático, considerando esse tipo de abordagem como superficial e fraco.
Lembro-me de ter lecionado numa instituição de ensino teológico para alunos do quarto ano a primeira epístola de Pedro com uma abordagem que enfatizava a aplicação do texto e não só a interpretação. Pude perceber em boa parte da classe certa insatisfação e incômodo com essa proposta. Não deixamos de mergulhar nas questões teológicas da carta através de um estudo exegético. Contudo, a ênfase devocional e aplicativa da matéria, foi claramente desconfortável para boa parte da turma. (Isso aconteceu numa instituição cuja filosofia de treinamento promove o aspecto prático e vivencial da verdade. Imagino o que acontece em escolas que não privilegiam esse aspecto).
De modo geral, terminamos reproduzindo nos estudantes nossa herança cristã racionalista e a ênfase de um sistema de ensino que superestima a cognição e o raciocínio. Com essa perspectiva as pessoas lidam com a verdade de Deus de forma técnica, fria, distante e especulativa. A paixão do seminarista recém-formado é a interpretação bíblica e não a aplicação bíblica. Aliás, a inabilidade aplicativa e a dificuldade de traduzir a verdade extraída das Escrituras para o cotidiano das pessoas é algo evidente em grande parte dos pastores e mestres cristãos e eu me incluo nisso.
Estou obviamente fazendo uma crítica do ponto de vista do conservadorismo. Nesse sentido é uma autocrítica. Não desconsidero, por outro lado, os efeitos devastadores de uma abordagem que enfatiza a aplicabilidade do texto sem a devida interpretação. Grande parte do cristianismo evangélico atual tem esse tipo de abordagem, talvez até como reação ao que comentei anteriormente.
Precisamos de equilíbrio entre interpretação e aplicação bíblica. A questão foi muito bem sintetizada por Ramesh P. Richard em Selected Issues in Theological Hermeneutics, p.14
Os cristãos precisam continuamente fazer o casamento da verdade com a relevância da verdade, no entanto, alguns crentes, sacrificam a verdade no altar da relevância, enquanto outros, isolam a verdade numa prisão de irrelevância.
Marcelo C.Silva
Creio que o mais importante é mantermos comunhão com o Pai e dessa forma não impedirmos a ação do seu Espírito em nossas vidas. Se assim o fizermos, não perderemos oportunidades de falar da Verdade aos homens e principalmente de vivenciar o amor do Senhor Jesus em nossas vidas. Apesar de termos sim, perdido robustez teológica, a humanidade ainda espera ardentemente a nossa manifestação como filhos, (Rm 8:19), seja ela por palavras (boas novas) ou através de uma vida que transpareça o que Jesus fez por nós.
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