“A PRÁTICA DO NATAL”

Alguns anos atrás uma reportagem especial da Revista Veja sobre o natal noticiava o genocídio silencioso no Sudão e estampava a seguinte frase na capa: Darfur, à espera do Salvador: O genocídio sem fim na coração da África desafia o sentimento cristão e o simbolismo do Natal.

Na verdade creio que esse tipo de questionamento irônico aos valores do cristianismo é um exercício saudável e benéfico à fé cristã, pois nossa tendência é celebrarmos o natal como uma tradição religiosa e não como um valor essencial da nossa fé e uma realidade histórica que permeia todos os aspectos de nosso dia-a-dia.

Existem várias maneiras de considerarmos o significado do Natal e dentre elas a melhor maneira, é viver o seu significado todos os momentos de nossas vidas, o que certamente implica em militar contra todas as formas de opressão e injustiça.

Quero nessas linhas apenas lembrar de algumas informações que a Bíblia nos fornece, afim de praticarmos o natal como um valor essencial da nossa fé Cristã. 

NATAL É PROCLAMAÇÃO – Mq 5.2; Lc 1.26ss; 2.8ss.

Nascimentos sempre geram anúncio e proclamação. A notícia precisa ser divulgada. No caso de Jesus, o seu nascimento foi pré-anuciado com certeza profética e proclamado como “...boas novas de grande alegria, que o será para todo o povo.” (Lc 2.10).

A proclamação é necessária por causa da grandeza do recém-nascido – Ele é Salvador e Senhor (Lc 2.11). Natal fala de proclamação constante e universal da Salvação providenciada por Deus na pessoa de Jesus Cristo. Essa é uma proclamação que precisa ser encarnada em nosso dia-a-dia e não apenas cantada em nossos corais bem ensaiados para o programa anuais. Essa proclamação precisa vir com gestos e ações de boas novas para nossos vizinhos, colegas de escola e trabalho, parentes não cristãos. Precisa ser uma proclamação vivida e não representada. NATAL É PROCLAMAÇÃO DO AMOR DE DEUS AO SER HUMANO.

NATAL É REVELAÇÃO - Jo l:l8 (cf.v.14)

O nascimento revela!!! Pelo nascimento e encarnação Jesus revelou Deus ao homem de maneira clara e inequívoca. Ele chegou a dizer a Filipe: “Quem vê a mim, vê o Pai” (Jo 14.9). Natal fala da revelação de Deus ao homem. É Deus se mostrando à humanidade de maneira compreensível, empática e redentora. Natal fala do plano de Deus para as pessoas – salvação de uma punição eterna e restauração de uma vida plena na presença do Criador. Praticar o Natal é mostrar Deus ao mundo. É revelar a natureza e a vontade de Deus para cada ser humano por meio da própria vida. 

NATAL É MISSÃO - Hb l0:l-l0. 

Anos atrás, eu decidi compartilhar com as pessoas o significado do natal com as seguintes perguntas: “Você sabe o que é Natal?” E geralmente as pessoas dizem: “É o nascimento de Jesus!” Então eu perguntava: “E você sabe PARA QUE Jesus Nasceu?” As pessoas têm algumas respostas. Mas a “minha” resposta era: JESUS NASCEU PARA MORRER!!! Essa resposta parece óbvia, afinal de contas todos os que nascem terminam morrendo. Mas o nascimento de Jesus tem como o alvo maior a sua morte. Ele mesmo disse que veio para “...dar a sua vida em resgate por muitos.” (Mc 10.45). Ele procurou deixar claro para os seus discípulos que lhe era necessário ser morto. Jesus não nasceu apenas para nos deixar um exemplo de vida altruísta. Jesus nasceu por que Deus planejou salvar o homem da condenação do pecado que é a morte (Rm 6.23 – “...porque o salário do pecado é a morte”). Sendo assim, o Jesus nasceu para morrer no lugar do ser humano e livrá-lo da condenação. Natal fala de uma Missão de Resgate que Deus planejou para o homem. Falar de Nascimento de Jesus sem referência à Sua morte, é desfocar o sentido no Natal. Praticar o Natal é encarnar a Grande Missão de Jesus Cristo em levar a salvação aos perdidos. Praticar o Natal é anunciar não só o nascimento de Jesus, mas também a Sua morte. Praticar o Natal é ter consciência de Missão. É entender para que nascemos, porque ainda estamos vivos e pelo que devemos viver e morrer. Jesus nasceu com uma missão. Jesus nasceu para providenciar um sacrifício pelo pecado. Jesus nasceu para morrer. Praticar o Natal é morrer para nós mesmos dia-a-dia para que o cumprirmos o grande e perfeito propósito de Deus para nossa existência.

NATAL É CONFRONTAÇÃO - 1 Jo 3:8. 

Ao nascer num mundo que está sob o poder do maligno (1 Jo 5.19), Jesus confrontou as obras do diabo (l Jo 3:8). Na cruz ele triunfou dos principados e potestades e confrontou a vida deturpada de uma humanidade desviada do Criador. Praticar o Natal é viver de maneira diferente da sociedade em decadência. É ter a coragem de dizer NÃO para as sutis propostas malignas e SIM para uma vida digna do Senhor. Praticar o Natal é confrontar o mal e a corrupção em todos os sentidos e níveis. É ser um AGENTE DE TRANSFORMAÇÃO. É promover a paz e a o temor a Deus.

NATAL É CONSOLAÇÃO – Lc 2.8-11

Infelizmente o mundo vê no natal apenas uma leve inspiração para a solidariedade e amizade entre as pessoas. O natal é apenas uma tradição inspirativa e reflexiva, que deveria renovar a tolerância e a irmandade humana por pelo menos mais um ano. Mas o Natal é consolação no sentido mais pleno da palavra. O natal fala da única esperança de verdadeira transformação pessoal e social. Natal é a solução de Deus uma humanidade desiludida e desesperada. Natal é boa nova de grande alegria! Porque é Deus se aproximando e se identificando com o ser humano em suas misérias e sofrimentos para resgatá-lo e dignificá-lo com a salvação. Natal é a esperança de verdadeira mudança. O anseio humano por mudanças (respostas) é tão real que se materializou absurdamente na campanha presidencial da maior potência mundial. Barack Obama se tornou o homem mais poderoso do mundo, por que catalizou o anseio maior de uma população – mudança!!! Mas Jesus Cristo é o único que pode mudar nossa vida, nosso destino, nossa forma de viver, nossa perspectiva da morte. O único que pode nos trazer verdadeira CONSOLAÇÃO. E Ele é o único que pode nos fazer dizer: Sim, nós podemos!!! Porque tudo podemos Naquele que nos fortalece (Fp 4.13). Praticar o Natal é nascer com Jesus e encarnar a Graça e a Verdade para pessoas que andam nas trevas dos seus problemas e pecados. É ser verdadeira consolação para o necessitado. Praticar o Natal é praticar a compaixão de ver o ser humano como gente e não como produto, ou número, ou pretexto. É expressar o amor divino numa auto-doação consciente, incondicional e desinteressada. É ser o Corpo de Cristo na terra, e expressar todo o amor de Deus ao ser humano. O natal em Darfur, segundo a reportagem da Veja, só não é pior por causa de um batalhão de abnegados voluntários de ONGs humanitárias. Sem minimizar as grandes questões que o sofrimento humano impõem sobre a fé cristã, talvez Darfur e outros lugares ainda esperam um Salvador porque o Natal se tornou apenas um programa especial de final de ano para milhões de cristãos ocidentais. Jesus ainda não nasceu em Darfur e em outros lugares miseráveis de nosso planeta, porque o natal tem sido mais comemorado como data do que praticado como vida em nossas igrejas.

Que Deus nos dê a Graça de praticarmos o Natal de Jesus para que todas as nações desfrutem do Salvador que já veio, já viveu entre nós, já morreu pelos nossos pecados, já ressuscitou para a nossa justificação. Que a única espera pelo Salvador, seja a espera de sua 2ª. vinda, em poder e glória para nos receber em seu reino.

Marcelo C. Silva